Estilo de Vida

Estilo de vida é uma expressão moderna que se refere à estratificação da sociedade por meio de aspectos comportamentais, expressos geralmente sob a forma de padrões de consumo, rotinas, hábitos ou uma forma de vida adaptada ao dia a dia. Sua determinação não foge às regras da formação e diferenciação das culturas: a adaptação ao meio ambiente e aos outros seres humanos. É a forma pela qual uma pessoa ou um grupo de pessoas vivencia o mundo e, em consequência, se comporta e faz escolhas.
Há revistas populares e colunas em jornais anunciando padrões específicos de conduta, alimentação, roupas, espaços de esporte, lazer etc. Poder-se dizer que "estilo de vida" denomina alguns aspectos da vida social relacionadas ao comportamento de grupos específicos, como, por exemplo: as classes sociais (concebidas numa perspectiva da teoria marxista ou simplesmente como segmentos das estratificação socioeconômica); os novos ricos; os aristocratas (e burgueses); o american way of life; e o comportamento das tribos urbanas punksgóticas ehippies, entre outros outsiders.

Por que estudar os estilos de vida?

O problema que se coloca a um pesquisador é "como" e "por que" estudar estilos de vida. Não há dúvida que estamos diante de um tema (objeto) de estudo das ciências sociais (sociologia e etnologia) e/ou psicologia social).
Alguns padrões sociais de estilo de vida constituem os principais fatores de risco comportamentais envolvidos nas doenças crônicas e incapacidades sérias. Observe-se que doenças crônicas como as cardiovasculares e neoplasias, junto com os acidentes e violências, estão entre as principais causas de morte nas sociedades, desenvolvidas ou não. Um estilo de vida sedentário está associado a sobrepeso eobesidade, por exemplo.
Isso só já seria uma razão suficiente, mas outros problemas sociais e comportamentais também podem ser compreendidos, como a elaboração de conceitos e medidas relativas a esse modo de ser da sociedade e dos indivíduos.
Uma modelo usando uma minissaia

História

Do ponto de vista da sociologia, uma das primeiras aproximações com o conceito de way of life – modo (gênero) de vida - foi o trabalho do antropólogo Lewis Morgan (1877), que seria retomado posteriormente pelos teóricos criadores da economia política Marx e Engels em diversos escritos, entre os quais: "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" (Engels), textos sobre formações sociais pré-capitalistas, e "O Capital" (Marx), que, como observa Almeida, de certo modo, anteciparam o uso do conceito de cultura.
Lê-se, na introdução de A Ideologia Alemã (Marx & Engels):
Ainda segundo Almeida, posteriormente, a expressão "modo de vida", que, de certo modo, antecipou o uso do conceito de "cultura", aproxima-se do que define a organização econômica da sociedade – meios de produção, enquanto que sua relação com os aspectos simbólicos na teoria marxista seriam retomados por Georg LukácsAntônio Gramsci com sua aplicação aos estudos da vida cotidiana e cultura popular, com sua diversidade de recursos simbólicos.
O conceito de "cultura", por sua vez, ao longo do século XX, assume uma diversidade de significados que, por sua amplitude, não mais nos permite aproximá-lo sem redução determinista de causalidade às noções de "estilo" e "modo de vida", a não ser pela concepção de subculturae cultura desviante (outsider).
Hippies relaxando no festival de Woodstock, um marco do movimento hippie
Geertz, citando Kluckhom, enumera algumas propriedades desta trama conceitual que envolve desde comportamento aprendido e transmitido através de gerações, aos sistemas simbólicos, produtos, artefatos elaborados e formas de adaptação ao meio ambiente ou organização social dos grupos humanos mas situa a antropologia cultural como uma ciência interpretativa à procura do significado.

A organização social e suas contradições na teoria marxista

De acordo com a concepção materialista, o fator decisivo na história, segundoEngels, é, em última instância, a produção e a reprodução da vida imediata. A ordem social em que vivem as pessoas de determinada época ou de determinado país está condicionada por essas duas espécies de produção: pelo grau de desenvolvimento do trabalho, de um lado, e da família, de outro. A diversidade depovos e culturas, segundo esse autor, advém da combinação desses fatores. Em suas palavras: quanto menos desenvolvido é o trabalho, mais restrita é a quantidade de seus produtos e, por consequência, a riqueza da sociedade; com tanto maior força, se manifesta a influência dominante dos laços de parentesco sobre o regime social.
Trabalhadora em uma fábrica de peças de aviões.
Essa estrutura básica de equilíbrio entre os fatores de produção e reprodução social pode estar em equilíbrio, como nas comunidades primitivas (gentílicas ou organizadas em famílias e clãs ou gens), até que as dimensões da população ou a produtividade aumente sem cessar de modo que rompa-se esse equilíbrio, criando-se novos elementos como a propriedade privada e as trocas, o emprego do trabalho alheio e as diferenças de riqueza e classes sociais. As novas relações de propriedade (o recém-criadoEstado) submetem o antigo regime familiar, não sem contradições e lutas de classe que constituem o desenvolvimento da história até os nossos dias.[1]
Além dos mecanismos de controle da reprodução social (onde se estruturam os sistemas deparentesco), do ambiente físico e das bem definidas pressões econômicas na teoria marxista, as explicações sobre a diversidade cultural ou os distintos estilos de vida (ways of life) têm sido propostas por diversos autores da antropologia cultural (incorporando as contribuições da psicologia e psicanálise) com base nas idiossincrasias pessoais de líderes (genes e acontecimentos de sua história individual), desenvolvidas especialmente nas teorias da personalidade.
A potencial capacidade de transformação ou adaptação em uma sociedade com carências, privações (ou "estressores psicossociais", nas concepções modernas de estresse) e desigualdades no acesso de seus integrantes aos recursos econômicos e benefícios da civilização (urbanização) é intermediada por intervenções na ideologia (ou aparelho ideológico do estado), no que tende a ser visto como soluções individuais ou comportamentos alternativos (alguns até estimulados pelo marketing da saúde como estilos de vida saudável).
Corredores na Corrida de São Silvestre de Avaré (2005 - 60 anos)
Contudo, não há uma possibilidade de distribuição de pequenas fortunas e equipamentos urbanos para todos ou mesmo dos alimentos para uma população que cresce numa proporção geométrica,parafraseando Malthus (1766-1834). As rupturas e divergências manifestadas a partir da consciência individual tendem a ser controladas como desvios de conduta, segundo a teoria marxista.
Para Marx, a consciência é um produto social. A consciência do meio sensível e imediato é uma relação limitada com outras pessoas e coisas situadas fora do indivíduo. A partir do momento em que a consciência pode supor algo mais que a prática existente, entra em contradição com as relações existentes: isso deve-se apenas ao fato de as relações sociais existentes terem entrado em contradição com a força produtiva existente, o que também pode acontecer em relação à esfera nacional ou entre uma nação e as outras nações (Marx, em "A Ideologia Alemã"), e a política, como já foi dito, é a arte de evitar a guerra.

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